O RAP NO BRASIL

a periferia com o poder da palavra, 1988-2015

No livro, os rappers emergem como vozes legítimas na abordagem e na produção de leituras sociais, assumindo, à sua moda, o papel de intérpretes/narradores de seu tempo, cuja matéria-prima é a da história imediata. A argumentação envolve muitos movimentos. Passa pela prática que instituiu a ideia de poder da palavra como valor fundamental entre os adeptos dessa cultura, no interior da qual os rappers agiram como historiadores do tempo presente e como lideranças portadoras de determinadas “verdades”, construídas com base em suas experiências concretas dentro do emaranhado de contradições que é a vida social. Ao refletirem sobre a própria sociedade e sua história, eles plasmaram narrativas específicas cortantes e contundentes, algo pouco ou nada comum em outros discursos. Em meio a isso os MCs permitem entrever o desenvolvimento de noções complexas de pertencimento identitário e territorial. Além disso, o livro analisa os sentimentos indigestos que despontaram no universo rap. Nesse passo, ele mostra em detalhes porque os desdobramentos da crença no poder da palavra geralmente não são vistos com bons olhos, em especial quando o protagonismo da fala envolve assuntos delicados como o agressivo questionamento do status quo e a responsabilização de sujeitos ou grupos pelas mazelas sociais, molas propulsoras de certo revanchismo (de classe, em particular). O trabalho envereda ainda por diferentes representações do feminino estampadas em letras de rap e explora posturas machistas, sexistas e, por vezes, misóginas instaladas entre os rappers. Simultaneamente detecta algumas fissuras no domínio masculino, com mulheres que romperam, mesmo que parcialmente, com a dominação a que são submetidas e com os discursos e valores hegemônicos. Por fim, procura evidenciar como as vozes dissonantes dos rappers integram uma comunidade de sentidos e estão no centro de uma intrincada rede de comunicação e compartilhamento de ideias que tem na música a sua principal plataforma. É o momento para apontar como a voz de um/uma rapper dialoga com a produção de outros/as (direta ou indiretamente), pois tais vozes não estão isoladas e, por isso, muitas vezes embalam um trabalho coletivo que extrapola fronteiras de tempo e espaço.

autor: ROBERTO CAMARGOS / prefácio: ADALBERTO PARANHOS / capa: CARLOS GABRIEL / diagramação: RONYERE FERREIRA/ editora: CANCIONEIRO / páginas: 354

ficha técnica